A história recente do abastecimento de água em Campina Grande, com três episódios de racionamento impostos à população, deveria ter surtido efeitos inovadores. Nossa cidade, que almeja ser protagonista de um novo tempo, até por suas intrínsecas especificidades tecnológicas, precisa radicalmente que suas lideranças se unam em torno de um objetivo maior: garantir a sustentabilidade hídrica do território campinense, inclusive considerando que elas dependem desta solução para sobreviver.
Açude Epitácio Pessoa (2008) - Foto do arquivo de Isnaldo Cândido |
A relação entre a água e as cidades sempre existiu ao longo do tempo. Nesse contexto, Campina Grande não se diferencia. Fomos dependentes do Açude Velho, do Açude Novo, do Açude de Bodocongó, do Açude João Suassuna, do Açude Vaca Brava e agora, a cidade lateja em face do abastecimento exclusivo pelas águas do Epitácio Pessoa (Boqueirão). O estado não é terminal, mas, digamos, "inspira sérios cuidados".
Vista Parcial do Açude de Bodocongó. Foto adquirida a partir do sítio http://cgretalhos.blogspot.com.br/ |
Um excelente diagnóstico da saúde hídrica de Campina Grande foi apresentado recentemente pelo prof. Janiro Costa Rego, da Universidade Federal de Campina Grande, por ocasião da comemoração do Dia Mundial da Água, na sede da Federação das Industrias do Estado da Paraíba (FIEP). Na oportunidade, o renomado pesquisador, até usando pedagogicamente de principio algébrico elementar, de forma insofismável, mostrou que a conta não fecha: consome-se aproximadamente duas vezes o que é prudentemente recomendado ou, em outras palavras, a demanda do Açude Epitácio Pessoa é o dobro do que, por outorga, ele pode oferecer. E essa conta por si já basta para discussões variadas.
Inegavelmente, nos últimos anos, a cidade de Campina Grande vem retomando, a partir de sua vocação declamada para o trabalho, o caminho do desenvolvimento. Apenas para citar um dado, basta enxergar o pujante crescimento da industria da construção civil, que apresenta números alvissareiros. Novos investimentos têm sido diuturnamente divulgados.
Mas, tudo isso poderá ficar seriamente comprometido, caso a busca de uma terapêutica não seja rapidamente encontrada no que se refere ao abastecimento hídrico da cidade. E aí, retomando as ponderações inicias, um perene e incansável debate deve ser posto em prática, de forma que toda a sociedade se envolva. Das lideranças comunitárias à Associação Comercial, das Igrejas aos Clubes de Serviço, do CDL à FIEP. Afinal, os nossos centenários mananciais com a importância histórica de quem contribuiu para que aqui chegássemos, e antes mesmo que a vela se apague, ainda querem testemunhar o triunfo da Rainha da Borborema.
Sugiro, para uma melhor compreensão do tema, a leitura do trabalho "CONSIDERAÇÕES SOBRE A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA - BOQUEIRÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA EM CENÁRIO DE VINDOUROS ANOS SECOS", apresentado no XI SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NORDESTE, de autoria dos pesquisadores Janiro Costa Rego, Carlos de Oliveira Galvão e José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, que pode ser acessado pelo link https://www.dropbox.com/s/3u9henpl2yc2af3/RegoGalvaoAlbuquerque.pdf